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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Pitch Invasion: Adidas, Puma and the making of modern
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-85-378-1082-8
Editora: Zahar
A história da Puma, da Adidas e dos primórdios do marketing esportivo ilustra a epopeia de alguns dos maiores empreendedores, de atletas de alto nível e de políticos ambiciosos oriundos dos escombros de uma guerra e imersos, diretamente, no mundo dos esportes.
Trata-se de uma trajetória que representa a passagem de um período marcado pela ingenuidade e inúmeros sacrifícios para um otimismo deslumbrado com o capitalismo do tipo mais selvagem, calcado na falta de ética e nas implicações do consumo massificado.
Puma e Adidas são, nesse sentido, empresas sobreviventes, pois souberam como crescer ao antecipar e constituir mercados massivos e globalizados. Nesse período de pós-guerra e dos primeiros tempos da Guerra Fria, os conceitos de ética e bom-senso político eram utilizados com significados e traduções muito diferentes dos que utilizamos na atualidade.
Para apreendermos o contexto, devemos nos lembrar que o mundo ocidental passava por uma longa fase de reconstrução, de orgulhos nacionais profundamente feridos e a ascensão de impérios multinacionais.
A história de Rudolf e Adolf Dassler, dois irmãos sapateiros, tem início na Alemanha, na primeira metade dos anos de 1920. Antes da II Guerra Mundial, a empresa criada por ambos obteve grande sucesso ao vender sapatos exclusivamente fabricados para esportistas, algo inovador à época.
O crescimento do negócio de calçados esportivos, edificado na lavanderia da residência de sua mãe, a Senhora Dassler, é contemporânea à chegada de Adolf Hitler ao poder.
A empresa dos irmãos Dassler passou, também, pelos esforços de guerra, pelo profundo sentimento de humilhação nacional dos alemães e seu posterior renascimento, aproveitando, literalmente, restos de materiais coletados junto às ruínas das cidades (incluindo, por exemplo, desde lonas de barracas a solas das botas dos soldados mortos) para a fabricação de novos sapatos.
Interessante notar que a guerra dividiu a família Dassler. Os ambientes de tensão, a constante pressão de viver em um estreito limite entre vida e morte, entre outros aspectos daqueles tempos, contaminaram os irmãos que, assim, passaram a desconfiar de todos à sua volta para sobreviver.
Tal clima desencadeou uma antiga rivalidade entre os dois, levando à ruptura de sua empresa. Adolf (cujo apelido era Adin) foi o fundador da Adidas, enquanto Rudolph, por sua vez, criava a Puma.
As duas organizações eram do tipo familiar, gerenciadas pelos próprios fundadores, filhos, genros e esposas, estando apartadas apenas por um rio existente em uma cidade da Baviera.
Adin era um ardoroso fã e assíduo praticante de esportes. Posteriormente, tornou-se um sapateiro que adorava o seu ofício, sempre focado em oferecer soluções para os calçados dos esportistas. Enquanto concentrava-se na qualidade dos produtos, a estratégia comercial, as vendas, o marketing e todas as demais atividades estavam a cargo de seu filho Horst Dassler, suas filhas e Kathe Dassler, sua esposa.
Kathe organizava tudo: desde o princípio, era ela quem cuidava do relacionamento com fornecedores e clientes. Tanto que transformou sua residência em um local aconchegante, no qual os viajantes tinham sempre à disposição um bom prato de comida, bolos de ameixa e café, além de uma confortável cama para o descanso, enquanto as negociações eram realizadas.
Esse tratamento (que, hoje, chamaríamos de “VIP”) assegurou a fidelidade com a Adidas, sendo crucial na consolidação de sua cultura organizacional. Desde cedo, os relacionamentos pessoais tiveram um papel estratégico para o êxito dos calçados esportivos da marca.
Os Dassler perceberam, então, que a melhor propaganda para o seu negócio residia no fato de que esportistas renomados utilizassem seus produtos durante suas vitórias mais importantes.
Essa visão diferenciou significativamente a empresa perante a concorrência. Isso foi tão relevante que, por exemplo, nas Olimpíadas de 1956, sediada em Melbourne, Horst Dassler, aos 20 anos de idade, teve a primeira grande ideia de sua profícua vida empresarial.
Horst decidiu distribuir gratuitamente dezenas de tênis Adidas aos principais competidores de atletismo, algo totalmente inovador e disruptivo para a realidade da época. Com efeito, os atletas (todos eram amadores) gastavam importantes somas de dinheiro para a aquisição de seus próprios tênis de corrida.
Uma visibilidade inédita foi, dessa forma, garantida. A partir desse ponto, uma enorme rede de relacionamentos pôde ser construída, transformando para sempre o mundo dos esportes.
Sem embargo, a personalidade de Horst era bem diferente em comparação à de seu pai. Ele foi o maior responsável pelo alto crescimento, diversificação e internacionalização de uma empresa que, até então, era do tipo familiar.
Para ele, os negócios dependiam, basicamente, do estabelecimento de boas relações. Essa compreensão permitiu que um verdadeiro império fosse constituído, a partir de uma rede sem precedentes em seu mercado de atuação.
A influência de Horst Dassler foi tão intensa que ele ajudou na eleição de presidentes da FIFA (Como Joseph Blatter e João Havelange) e do COI (Comitê Olímpico Internacional), Juan Carlos Samaranch.
A partir dessa rede de influência, a Adidas converteu-se em uma marca que passou a fornecer acessórios e roupas esportivas para quase todas as delegações do mundo. Desse modo, ele praticamente criou o conceito moderno de marketing esportivo, realizando a intermediação de direitos de imagens em eventos como os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo para sua exploração por marcas internacionais.
Com os recursos adquiridos e os altos rendimentos, Horst investiu na criação de mecanismos para a perpetuação do poder de pessoas fiéis aos interesses da Adidas nesses organismos.
Ademais, ele tinha um excelente feeling para escolher colaboradores com a ambição necessária para entrar nesse esquema e atuar, sem hesitações, para o cumprimento de seus planos. Não importava se, para tanto, fosse necessário trapacear, subornar ou mentir.
Enquanto um exímio planejador, Horst sabia detectar oportunidades para novos negócios como ninguém antes ou depois dele. A partir de uma impressionante autoconfiança (que foi interpretado por muitos de seus interlocutores como mero egocentrismo), era capaz de edificar equipes com enormes capacidades de execução.
Vale lembrar que, em pouco tempo, todo um império foi construído às margens dos negócios principais da empresa. Após mais de duas décadas dominando, de modo quase exclusivo, o mercado de roupas e calçados esportivos, a empresa experimentou o poder comum aos líderes de mercado, menosprezando (até que fosse muito tarde) o crescimento de organizações como a Nike.
Desse modo, importantes mercados foram perdidos para a concorrência norte-americana, levando a Adidas, naquele momento, à beira da falência. A história relatada por Smit (na qual a Puma aparece como simples coadjuvante), pode ser tomada como um retrato muito interessante do gigantesco crescimento de uma organização familiar que, apesar de suas dimensões, foi inteiramente administrada, em boa parte de sua história, pela família que a fundou.
Agora que chegamos à metade da leitura, é altamente recomendável extrair algumas das lições mais importantes deixadas pela autora e que são de grande interesse, principalmente, para todos que apreciam estudar sobre empreendedorismo. Confira algumas das principais:
A presente obra narra a trajetória de diversos empreendedores. Contudo, pelo menos dois perfis merecem ser destacados: um esportista fascinado por seu ofício, altamente ético, trabalhador e humilde, como Adolf Dassler. O outro perfil é o de um claro workaholic, egoísta e ambicioso, Horst Dassler.
Enquanto um deles construiu um bom negócio a partir do zero, o outro converteu a empresa em uma gigante multinacional, uma das primeiras organizações familiares alemãs que se reergueram após a devastação promovida pela guerra.
As inúmeras menções a trajetórias de sucesso levam o leitor a refletir sobre a gênesis empreendedora, dos motivos pelos quais as pessoas decidem abrir um negócio e sua interatuação: cultura, formação, pensamento positivo, otimismo, herança, ambição e sobrevivência etc.
A personalidade de Horst sempre motivou relacionamentos em relação à ética nos negócios e à forma como os empreendedores devem se conduzir. Presenciamos, novamente, a capacidade de transformação que uma única pessoa pode causar.
O foco absoluto em seu negócio – ele tinha 4 secretarias, promovia almoços rotativos, atendia 3 clientes por vez e nunca esteve presente em ocasiões ou eventos familiares –, assim como sua impetuosidade, ambição, autoconfiança, persistência, planejamento e execução foram os elementos responsáveis pela criação de um império comercial.
Uma lição valiosa pode ser extraída, também, do fato de como um enorme ego, quando não controlado, pode gerar impactos devastadores para todos ao redor: empregados, familiares, parceiros comerciais, sócios e, inclusive, para a sociedade como um todo.
Muitas mentiras, subornos, carreiras e estruturas financeiras sendo destruídas e montadas com objetivos de acumular sempre mais poder e mais dinheiro. No fim das contas, o próprio Horst sofreu os efeitos de suas decisões.
Essa experiência deve servir como um alerta de que grandes egos, se não forem controlados, podem trazer impactos devastadores para todos ao redor: empregados, familiares, parceiros comerciais, sócios e, até mesmo, para a sociedade em geral. Essa é, geralmente, a consequência de mentiras, subornos e destruição de carreiras e estruturas financeiras em nome de objetivos únicos de acúmulo de dinheiro e poder.
Todos sabemos, na atualidade, do poder criador e transformador da inovação. Ao longo da trajetória da Adidas, existiram diversos exemplos de inovação em produtos e processos.
Primeiramente, com o velho Dassler e seus calçados especialmente projetados para esportistas e, depois, as travas das chuteiras. Finalmente, com as estratégias de marketing nunca antes vistas e colocadas em práticas por Horst. Isso para não mencionar a elaboração do conceito de um marketing esportivo utilizado como fonte de financiamento para grandes eventos de alcance mundial.
A Adidas pôde crescer devido, em grande parte, à intensificação de uma grande teia que incluiu esportistas, fornecedores e dirigentes esportivos de todo o mundo. Kathe Dassler entendeu perfeitamente que são pessoas que fazem negócios e empresas prosperarem.
De fato, esse talvez foi o mais importante ensinamento deixado ao filho e à cultura de sua empresa. Foi justamente essa abertura que permitiu que a Adidas disseminasse sua rede pelos quatro cantos da terra.
Não restam dúvidas de que o futebol é, para todos os efeitos, o mais popular esporte do planeta. Grande parte das estratégias de marketing, vendas e logística e, até mesmo, o cronograma das competições levam em consideração as decisões tomadas no âmbito do futebol.
E a popularidade desse esporte, tão caro a nós, brasileiro, deve muito de sua evolução a uma marca: Adidas!
Gostou do microbook? Então, leia também “Pare de Pensar Como Empregado” e conheça os elementos fundamentais que diferenciam os empreendedores dos funcionários!
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Barbara Smit tem escrito para o Financial Times, o International Herald Tribune, a Economist, e Time, entre outras publicações. Ela receb... (Leia mais)
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